A CRIANÇA É O PAI DO HOMEM
No período colonial a representação social e religiosa da criança monopolizava o sentido de sua vida. Os papéis culturais de “filho incapaz” e de “anjinho” superpunham-se e obscureciam sua condição de etapa biológico-moral no desenvolvimento do adulto. A vida infantil persistia cindida da vida dos mais velhos, como se seu cerne pertencesse a uma segunda natureza humana. Natureza imprecisa, expectante, que se mantinha em estado larvar até o despertar da puberdade. Entre o adulto e a criança as ligações existentes eram a da propriedade e da religião. Fora disso, um osso os separava. A ‘’alteridade” e a descontinuidade entre um e outro eram radicais. (COSTA, 1979, p. 162).
Os elos que ligaram a geração dos adultos à das crianças só se estabeleceram a partir da emergência da representação da criança como “matriz físico-emocional do adulto”.
As noções de evolução, diferenciação e gradação, heterogeneidade e continuidade, permitiram que a família pudesse “ver na criança e no adulto o mesmo e o outro”.
A partir daí “os papéis invertem-se: a criança passa a determinar a função e o valor do filho” (ibidem, p. 162).
É importante destacar que a evolução torna-se o paradigma teórico dominante na segunda metade do século XIX.
A teoria de Charles Darwin (1809-1882) propunha que a luta pela vida e a seleção natural seriam os mecanismos essenciais da evolução dos seres vivos.
Partindo de uma suposta relação de continuidade entre o animal e o homem, Darwin inscrevia o homem como mais uma espécie na ordem da natureza, rompendo radicalmente com as concepções religiosas e divinas sobre a sua origem.
Essa teoria, de acordo com Freud, seria responsável pelo “golpe biológico no narcisismo do homem”, colocando um fim à sua presunção de superioridade:
"O homem não é um ser diferente dos animais, ou superior a eles; ele próprio tem ascendência animal, relacionando-se mais estreitamente com algumas espécies, e mais distanciadamente com outras. As [aquisições] que posteriormente fez não conseguiram apagar as evidências, tanto na sua estrutura física quanto nas suas aptidões mentais, da analogia do homem com os animais. (FREUD, 1980 [1917], p. 175)".
Para garantir seu aperfeiçoamento, etapas superiores de humanização, a espécie humana teria passado por um longo processo evolutivo, desde os seus primórdios no reino animal. Esse percurso apontaria, portanto, para a infância da humanidade, que só teria sido superada posteriormente, depois dos processos de seleção natural e adaptação.
Uma das intenções de Darwin era investigar as relações entre os elementos da natureza e os da cultura, entre as etapas de transformação pelas quais o recém-nascido – que é tão parecido aos animais – se converte em um adulto e se integra socialmente.
Ele chegou até a publicar, em 1877, um relato sobre o desenvolvimento do seu próprio filho – A Biographic Sketch of An Infant – onde estudava suas emoções, sua capacidade de reação e de comunicação, buscando relacioná-las com manifestações análogas no mundo animal (ver CIACCIA, 1997, p. 25).
A teoria da evolução das espécies ultrapassou em muito o registro da ordem biológica, constituindo-se em um dos signos reveladores do novo horizonte delineado pela modernidade.
A partir de então, além da natureza, a cultura e a sociedade são também atravessadas pelo tempo e marcadas em seu ser pela história.
O alcance dessa perspectiva foi tão amplo que obrigou a uma revisão em todos os pressupostos teóricos das disciplinas que tinham alguma relação com o homem, favorecendo o nascimento de disciplinas como a antropologia, a sociologia, a psicologia comparada e a psicologia evolutiva.
A problemática da infância ganha novo impulso com essa inscrição do ser do homem na ordem da história e do tempo.
No Brasil, os médicos higienistas também são influenciados pelas idéias de Darwin e reagem com vigor contra o alto índice de mortalidade infantil.
A criança morta deixou de ser o “vetor da esperança religiosa dos pais”, para se tornar um atestado da incompetência, imprudência e ignorância de quem cuidava dela: parteiras, escravas, enfim, os próprios pais que a elas entregavam seus filhos.
O saber médico confrontou-se, então, aos valores sociais e religiosos, dominados por uma mentalidade pré-científica. Como representante de saber científico, o médico tornou-se o sacerdote do corpo e da saúde, com a tarefa de definir o que era “bom” ou “mau” para os indivíduos, suas famílias e a população.
Buscando as razões da irresponsabilidade da família colonial com a vida das crianças, os higienistas se depararam com o aluguel de escravas como amas de leite, com o papel da mulher como mera guardiã do patrimônio do marido, e, principalmente, com o papel do pai-proprietário, pivô de toda família.
A organização da família colonial era, portanto, funesta à infância e deveria sofrer transformações.
A nova família contaria com participação mais justa e eqüitativa entre homens e mulheres.
Ressituado no quadro familiar dentro de limites precisos, o pai se responsabilizaria pela proteção material dos filhos. A mãe, por sua vez, ganharia um papel autónomo no interior da casa, como iniciadora da educação infantil.
E os filhos deveriam ser criados para amar e servir à “humanidade” e à nação e não apenas ao pai. Assim, “a nova criança reclamava um casal que, ao invés de comportar-se como proprietário, aceitasse, prioritariamente ser tutor. Tutor de filhos cujo verdadeiro proprietário era a nação, o país” (COSTA, 1979, p. 170).
A idéia da nocividade do meio familiar foi o grande trunfo que os higienistas utilizaram para se apropriarem medicamente da infância.
Sua intervenção revelaria os segredos da vida e da saúde infantil, prescrevendo a boa norma de comportamento familiar dos adultos, visando à proteção da saúde de toda população.
Para os higienistas, a criança era uma entidade físico-moral amorfa, espécie de cera mole, que seria moldada a partir de pequenos hábitos exercidos cotidianamente pela disciplina física (costumes alimentares, ginástica, controle da masturbação...), pela disciplina intelectual e moral, que visava uma regulação autônoma e automática do “espírito das crianças” através do remorso e do amor-próprio ferido, mais do que dos castigos corporais.
A renovação da sociedade brasileira, após a chegada da Corte (1808), incrementou a demanda de escolarização, especialmente a partir da segunda metade do século, quando houve uma melhoria geral do sistema de transportes, viabilizando o envio dos filhos das famílias rurais para diferentes estabelecimentos escolares.
Coube a eles difundir o “cultivo da infância” através do valor do hábito, que gravava, nas crianças, convicções e interesses muitas vezes opostos aos de seus pais.
Essa foi uma tática utilizada amplamente pelo higienismo: apropriar-se das crianças, separando-as dos pais, e, em seguida, devolvê-las às famílias convertidas em “soldados da saúde”.
Em suma:A essência desta doutrina se resume na criação de um marco jurídico que legitime uma intervenção estatal discricional sobre esta espécie de produto residual da categoria infância, constituída pelo mundo dos menores. A não-distinção entre abandonados e delinqüentes é a pedra angular desse magna jurídico. Nesse sentido, a extensão do uso da doutrina da situação irregular torna-se inversamente proporcional à extensão e à qualidade das políticas sociais básicas. (MÉNDEZ, 1998, p. 88)
Crianças e adolescentes já não são mais os mesmos. Transformam-se para assumir posições inusitadas: de congêneres supostamente considerados inocentes e inaptos, as crianças e os adolescentes tornam-se os convivas que requisitam sua participação na realidade orgiástica do consumo e dos prazeres...(CASTRO, 1999, p. 12).
Caminhe pela rua 125 em Nova York: sem falta você encontrará, por exemplo, garotos de quatro anos de calças cargo ridiculamente largas, mantidas abaixo do cós para mostrar três dedos de cueca, chapéu de beisebol virado para trás, ou então, no inverno, capuz por cima da cabeça. Em suma, a caricatura dos membros de uma gangue. Eles não estão vestidos nem de crianças nem de adultos. Eles estão de adolescentes. O adolescente que eles imitam é o ideal dos adultos que os vestem. (CALLIGARIS, 2000, p.72)
Sou Kátia Barbosa Rumbelsperger. Pedagoga nas serieis iniciais, fundamentais e administração. Bacharel em Teologia. Pedagoga Empresarial. Psicopedagoga Clínica e Institucional. Terapeuta e Consteladora Sistêmica Familiar e Organizacional. Psicoterapeuta Holística. Especialista na Educação Especial, Dependência Química e Emocional. Terapia Cognitiva Comportamental. Orientadora Vocacional e Profissional com foco na Gestalt Terapia. Ensino Jovens e Adultos (EJA). Psicanálise Clínica em constante formação. Mentora e Mediadora em Conflitos.
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Kátia Barbosa Rumbelsperger, Psicoeducadora
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Sou formada em Pedagogia, com especialização nas séries iniciais e fundamentais, além de possuir um vasto conhecimento em administração. Minha paixão pela educação e pelo apoio ao desenvolvimento integral das pessoas me levou a diversas formações e atuações no campo da psicologia, psicanálise e terapias holísticas.
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Instituto Katia Rumbelsperger 360 Graus (IKR)
No Instituto Katia Rumbelsperger 360 Graus (IKR), utilizamos o Método DNA (Desenvolvimento Natural do Autoconhecimento), que tem como objetivo promover o crescimento pessoal e o autoconhecimento através de abordagens integradas e inovadoras. O IKR é uma referência em desenvolvimento humano e oferece uma variedade de programas e treinamentos focados em melhorar a qualidade de vida e o bem-estar emocional.
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