O brincar heurístico












Materiais naturais e não estruturados e pouca intervenção externa: conheça o brincar heurístico

Basta observar uma criança brincando para entendermos que a variação do brincar é praticamente infinita. 

São muitas as possibilidades desses momentos acontecerem no espaço: variam de tempo, de objetos, de forma de se relacionar com outros, de proposta e por aí vai. O chamado brincar heurístico é uma entre essas muitas opções. 

A abordagem foi desenvolvida pela educadora britânica Elinor Goldschmied. 



Elinor Violet Goldschmied (nascida Sinnott; 15 de dezembro de 1910 - 27 de fevereiro de 2009) foi uma educadora inglesa. Formado na London School of Economics e qualificado como assistente social psiquiátrico, ela trabalhou em uma instituição estatal italiana para crianças ilegítimas e abandonadas antes de se mudar para uma casa de mães solteiras em Milão, supervisionando mudanças na educação das crianças e no treinamento de funcionários, levando a uma transformação da assistência infantil na Itália. 

Goldschmied desenvolveu o conceito de "brincadeira heurística" como um meio de brincadeira relaxante para bebês com menos de dois anos e para manter um relacionamento especial com um membro individual da equipe. 

Ela também introduziu uma "cesta de tesouros" contendo itens domésticos não perigosos em uma cesta baixa e aberta, uma tarefa de exploração que foi projetada para não ter nenhuma intervenção física de um adulto supervisor.

A partir de observações do comportamento de crianças de até dois anos, ela criou a proposta que combina a curiosidade característica dessa faixa etária com a exploração de objetos previamente pensados para serem fornecidos às crianças. 

A Aliança pela Infância conversou com Paulo Fochi, coordenador do Observatório da Cultura Infantil, doutor em educação e assessor do Ateliê Carambola para compreender do que se trata o conceito. 

Livre exploração: o que é o brincar heurístico 

Derivado da palavra grega eureca, que significa descoberta, o brincar heurístico pode ser definido como ‘uma brincadeira de descobrir e explorar’

No brincar heurístico o adulto observa as maneiras utilizadas pelas crianças para explorar, interagir, escolher e tomar posse de objetos e suas propriedades e possibilidades. 

A livre exploração permite o desenvolvimento e expressão da criatividade e curiosidade inata à faixa etária. É o interesse pela forma com que os objetos por ela manipulados se comportam no espaço e suas descobertas consequentes, que incentivam as crianças a continuar explorando. 

O que não é brincar heurístico 

Por ainda não ser um conceito muito difundido e estudado no Brasil, interpretações incorretas são comuns quando se trata de brincar heurístico. 

Paulo argumenta que a prática não deve ser compreendida como simplesmente fornecer materiais não estruturados ou sucatas às crianças, uma vez que o brincar heurístico demanda uma organização que pode acontecer em três modalidades: 

o Cesto de Tesouros, 

o Jogo Heurístico e 

a Bandeja de Experimentações. 

Em comum, as três têm o objetivo de que a criança tome posse, explore o material e possa se concentrar e sentir prazer com sua própria brincadeira. 

Organização da proposta: as atribuições dos adultos 

Para que o brincar heurístico aconteça da forma correta, as três modalidades requerem intervenções pontuais dos adultos. 

Muitos autores concordam ao afirmar que as crianças devem aprender a sentir prazer em suas próprias atividades, sem depender de um gesto ou estímulo externo para isso. 

Segundo Paulo, entre as atribuições dos responsáveis está fazer uma seleção e manutenção de materiais, saber preparar um espaço com os materiais, fazer a iniciação e o encerramento da proposta, saber observar e documentar, interpretar e compreender o modo com que as crianças estão explorando e entender em que medida sua intervenção é necessária, além de, ao final da atividade, entender como é possível dar continuidade às investigações iniciadas pelas crianças. 

“O trabalho do adulto no brincar heurístico não se reduz a escolha dos materiais. É uma atividade muito sofisticada, sendo um grande equívoco as pessoas acreditarem que selecionar um conjunto de materiais e oferecer para as crianças se trata de brincar heurístico. Envolve um adulto muito disponível para aprender e estar com as crianças.”

Mais natureza e menos plástico 

Para que o brincar heurístico aconteça, é necessário um espaço tranquilo e uma seleção de objetos para que as crianças possam explorar. 

A ideia é que os materiais não sejam estruturados, uma vez que objetos estruturados e com uma proposta pronta podem limitar as possibilidades que oferecem às crianças.

 Além disso, é necessário que sejam o  mais próximos do natural, indo em direção contrária à artificialidade e uso do plástico. 

A modalidade Cesto de Tesouros é destinada a bebês que já ficam sentados mas que não fazem grandes deslocamentos. 

Cada cesto deve servir de três a quatro bebês, ter cerca de 60 objetos, todos naturais, evitando ao máximo o uso do plástico. 

O Jogo Heurístico, por sua vez, é para crianças que já engatinham e caminham. Paulo explica que é possível o uso de tapetes que circunscrevem a área de investigação de cada criança, devido à importância de cada uma se concentrar em suas próprias investigações, sem grandes interferências externas. 

Os materiais não estruturados e a polimaterialidade que aparecem no Jogo Heurístico também marcam presença na última modalidade, a Bandeja de Experimentações, destinada a crianças maiores, que já começam a se movimentar, ficar em pé e a verbalizar. 

“Nós costumamos dizer que, no Cesto, a pergunta que as crianças fazem é ‘O que é isso?’. No Jogo, elas começam a não só explorar o objeto em si, mas a fazer coisas com esse objeto, colocando a pergunta ‘O que eu faço com isso?’. E na Bandeja há uma situação que se alarga mais, quando as crianças começam a querer imaginar um futuro e uma hipótese para as coisas. Então uma possibilidade de pergunta que se fazem é ‘Como eu verbalizo isso?’. Essas perguntas são o nosso modo adulto de olhar para a experiência das crianças e imaginar perguntas macro que estão ali postas na vivência com o material não estruturado”, explica Paulo. 

Os benefícios do brincar heurístico 

Estudioso da prática, Paulo destaca alguns pontos positivos da metodologia. 

Em primeiro, o especialista reforça que ainda sabe-se pouco sobre como deve ser um professor de crianças pequenas e bebês, reforçando a necessidade de usar estratégias para qualificar esse tempo e interação. 

Em seguida, a realidade brasileira é um ponto a favor do brincar heurístico, uma vez que ele não demanda grandes investimentos em termos de espaço, materiais e estrutura. 

Uma terceira possibilidade da prática é alterar a lógica atual das interações infantis.

 Segundo Paulo, é possível vivenciar situações silenciosas com envolvimento da criança. 

“As pessoas sempre têm a mesma reação de choque ao assistir um vídeo do Cesto, Jogo ou Bandeja, que é a percepção do silêncio. É um silêncio de estado de interesse das crianças na sua investigação, num ambiente muito bem pensado e com um adulto que entende seu papel na relação. Além disso, a questão do tempo também é importante. Uma sessão de brincar heurístico pode durar 35 minutos ou uma hora, e as pessoas falam ‘uma criança de dois anos envolvida numa situação por uma hora?’. Isso é um contradiscurso a toda uma ideia de que criança pequena tem baixa concentração. Nós tratamos concentração como se fosse uma coisa dada, e não como uma questão construída pelas próprias oportunidades que oferecemos.”


Doutor em educação e professor universitário, Paulo criou o grupo Observatório da Cultura Infantil (OBECI) em 2013, que congrega seis escolas do Rio Grande do Sul: três da rede pública, duas da rede privada e uma de associação de pais. 

Desde então, o grupo tem se reunido para pensar o trabalho pedagógico na escola a partir de reflexões sobre o compromisso da transformação do cotidiano pedagógico.

 “Quando passamos a estudar essas questões em 2013, começamos a nos dar conta de que um dos grandes pontos que nos afetava e que deveríamos olhar com mais calma era o papel do adulto no sentido de como é um professor de bebês e crianças pequenas e como esse adulto pode se posicionar em uma relação educativa.”

Como já contava com um trabalho pessoal de pesquisa sobre o brincar heurístico, Paulo propõe ao grupo usar o tema como pretexto para estudar a relação adulto e criança. 

Ao final de três anos de estudos, os profissionais decidiram contribuir com a produção sobre brincar heurístico em Língua Portuguesa – ainda muito escassa – e publicar o livro O Brincar Heurístico na Creche – Percursos Pedagógicos no Observatório da Cultura Infantil OBECI, com a trajetória  e aprendizados do grupo. 

 

*Imagem: divulgação Ateliê Carambola. 




Esse modo de brincar espontâneo, segundo Paulo Fochi, é dividido em três diferentes modalidades:
  • Cesto dos tesouros;
  • Jogo heurístico e.
  • Bandeja de experimentação.   



jogo heurístico é uma atividade lúdica por meio da qual se estimula o descobrimento e a experimentação das crianças durante sua primeira infância

Quer descobrir mais sobre ele e conhecer sua importância no desenvolvimento e no aprendizado dos pequenos de casa?

O jogo heurístico

O jogo heurístico é uma atividade de jogo na qual as crianças interagem com diferentes tipos de objetos, formas e materiais. Os famosos brinquedos do tipo cesta de tesouros pertencem a esta categoria.


Nas escolas infantis, utiliza-se este método há muito tempo, fabricando eles mesmos seus próprios materiais de jogo. Entretanto, devido a estar no auge, na atualidade, muitos fabricantes de brinquedos de madeira, como Grapat, se centraram toda a produção de seus brinquedos nessa interessante pedagogia que se inicia desde que a criança começa a se movimentar (ao redor dos 12 meses) até os 2 anos.

Você conhece a cesta dos tesouros Montessori

Essa atividade sensorial tem sido amplamente adotada nos lares cujos pais optaram por seguir os preceitos do método Montessori

Não é de se estranhar que seja um jogo cada vez mais popular. 

Os bebês adoram explorar os objetos, conhecer texturas, formas, cores… Tudo é novo e tocar é imprescindível para conhecer o mundo e a si mesmo.

Um aprendizado autodidata

No jogo heurístico, a criança é o protagonista de seu próprio aprendizado. Sozinho ele explora, investiga e descobre de maneira natural e autoguiada. 

Os elementos de jogo desta vertente educativa favorecem o aprendizado por descobrimento, o conhecimento da realidade, o desenvolvimento da autoestima e o respeito pelo ritmo e as necessidades de cada criança.

As crianças descobrem, através de seus próprios sentidos, as características dos objetos que manipulam, realizando, assim, novos aprendizados por si mesmos.

Os benefícios do jogo heurístico e seus materiais

O jogo heurístico tem múltiplos benefícios para os pequenos da casa:

  • Desenvolve capacidades cognitivas: compreender, relacionar, conhecer…
  • Incentiva a manipulação e a criatividade das crianças.
  • Favorece as capacidades perceptivas: visão, audição, tato, olfato, paladar…
  • Tem benefícios corporais: desenvolvimento da motricidade grossa e fina
  • Ajuda a tomar consciência das leis da natureza (gravidade e equilíbrio).
  • Ao praticar a seleção e discriminação entre categorias de objetos diferentes, estabelecem a base do pensamento matemático.
  • Ensina valores éticos: respeito, tolerância, colaboração…
  • Oferece benefícios afetivos: desfrutar, valorizar, querer…
  • Também tem vantagens sociais: colaborar, compartilhar…







Fecundação Os primeiros registro da matriz de todos os sentimentos de rejeição ou amor é vivido pelo ser humano, tem sua primeira experiência na FECUNDAÇÃO Por isso é necessário que a gestação seja regada de sentimentos de amor e acolhimento. Esse registro será determinante para que a pessoa apresente em sua vida características e comportamentos para toda sua vida.

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