Traumas e Impactos no Comportamento e na Saúde Mental


A preocupação com o impacto de desenhos animados no desenvolvimento infantil é válida, e alguns conteúdos, de fato, podem ser prejudiciais. 

É importante, contudo, diferenciar o que é um "desenho perigoso" e como ele pode afetar o cérebro e o comportamento, bem como o papel da psicoterapia e psicopedagogia nesse processo.

O que seriam "Desenhos Perigosos"?

Não existe uma lista oficial de "desenhos perigosos", mas o perigo reside em características como:

Violência Excessiva ou Gratuita: Desenhos que mostram agressões físicas ou verbais sem consequências realistas, ou que glorificam a violência, podem dessensibilizar a criança e até mesmo incentivar comportamentos agressivos.

Conteúdo Inadequado para a Idade: Temas como sexualidade precoce, uso de drogas, linguagem vulgar, ou situações de terror/horror que não são apropriadas para a maturidade emocional e cognitiva da criança.

Estereótipos Prejudiciais: Desenhos que reforçam estereótipos de gênero, raciais, sociais ou culturais negativos podem distorcer a percepção da criança sobre o mundo e promover preconceitos.

Mensagens Subliminares Negativas: Embora seja um tema controverso, alguns alegam que certos desenhos podem conter mensagens subliminares que promovem comportamentos ou ideias prejudiciais (ex: consumismo excessivo, individualismo extremo).

 Falta de Resolução de Conflitos Saudável: Desenhos onde os problemas são resolvidos apenas pela força, pela mentira ou pela manipulação, sem mostrar a importância do diálogo, da empatia e da negociação.

Estimulação Excessiva e Ritmo Acelerado: Desenhos com muitas cores piscando, sons altos e um ritmo de edição muito rápido podem sobrecarregar o cérebro em desenvolvimento, dificultando a concentração e o processamento de informações.

Estragos no Cérebro e Traumas para o Resto da Vida:

É importante frisar que o impacto de um desenho não é o mesmo para todas as crianças, pois depende de fatores como idade, temperamento, ambiente familiar e tempo de exposição. No entanto, a exposição a conteúdos inadequados pode sim gerar:

 No Desenvolvimento Cerebral:

 Alterações no desenvolvimento socioemocional: O cérebro da criança está em formação, e a exposição repetida a violência ou mensagens negativas pode moldar circuitos neurais relacionados à agressividade, medo e ansiedade. Pode haver uma diminuição da empatia e dificuldade em reconhecer emoções em si e nos outros.

Dificuldade de concentração e atenção: Desenhos com ritmo muito acelerado podem "treinar" o cérebro para buscar estímulos constantes e rápidos, prejudicando a capacidade de focar em atividades que exigem atenção prolongada, como a leitura ou a resolução de problemas.

Problemas de linguagem e comunicação: Se a criança passa muito tempo assistindo a desenhos em vez de interagir com adultos e outras crianças, pode haver um atraso no desenvolvimento da linguagem e das habilidades comunicativas.

 Dessensibilização à violência:
 A exposição contínua à violência de forma banalizada pode levar a uma diminuição da resposta emocional a situações de violência na vida real, tornando a criança mais propensa a aceitá-la ou reproduzi-la.


Traumas e Impactos no Comportamento e na Saúde Mental:

Ansiedade e Medos: Conteúdos assustadores ou ameaçadores podem gerar ansiedade, pesadelos e medos irracionais, especialmente em crianças pequenas.

 Agressividade e Comportamentos Antissociais: A imitação de comportamentos violentos vistos em desenhos pode levar a brigas, bullying e dificuldade em seguir regras.

0 Problemas de Autoestima e Imagem Corporal: Desenhos que promovem padrões de beleza irreais ou estereótipos podem impactar negativamente a autoimagem da criança e gerar insatisfação corporal.

Dificuldade em Lidar com Emoções: Se os desenhos não mostram formas saudáveis de expressar e lidar com emoções, a criança pode ter dificuldade em regular suas próprias emoções, resultando em birras frequentes, frustração e isolamento.

Prejuízo no Desenvolvimento Social: O tempo excessivo de tela pode substituir brincadeiras ao ar livre e interações sociais, essenciais para o desenvolvimento de habilidades como negociação, empatia, resolução de conflitos e trabalho em equipe.

Prejuízo no Sono: A luz azul das telas e o conteúdo estimulante antes de dormir podem prejudicar a qualidade do sono da criança.

Atendimento com Psicoterapia e Psicopedagogia:
Quando os impactos negativos são significativos e persistentes, a intervenção profissional se torna fundamental:

Psicoterapia (Psicólogo Infantil):

Avaliação e Diagnóstico: O psicólogo irá avaliar a extensão dos traumas e as dificuldades emocionais e comportamentais da criança.

Elaboração dos Traumas: Através de brincadeiras, desenhos e conversas, o psicólogo ajuda a criança a expressar seus medos, ansiedades e raivas, elaborando os traumas vivenciados.

 Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais: Trabalha-se a empatia, a regulação emocional, a resolução de conflitos e a comunicação eficaz.

Reestruturação Cognitiva: Ajuda a criança a questionar e mudar padrões de pensamento negativos ou distorcidos que podem ter sido influenciados pelos desenhos.

Orientação aos Pais: O psicólogo orienta os pais sobre como gerenciar o tempo de tela, escolher conteúdos apropriados e promover um ambiente familiar saudável.

Psicopedagogia:
Avaliação das Dificuldades de Aprendizagem: A psicopedagogia entra quando os problemas resultantes da exposição a conteúdos inadequados afetam o desempenho escolar e o aprendizado da criança (ex: dificuldade de concentração, problemas de atenção, atraso no desenvolvimento da linguagem).

Intervenção Pedagógica Específica: O psicopedagogo desenvolve estratégias personalizadas para auxiliar a criança a superar suas dificuldades de aprendizagem, utilizando métodos e materiais adequados ao seu estilo de aprendizado.

 Estimulação Cognitiva: Trabalha a memória, atenção, raciocínio lógico, percepção e outras funções cognitivas que podem ter sido prejudicadas.

Desenvolvimento da Autonomia na Aprendizagem: Ajuda a criança a desenvolver estratégias de estudo e a se tornar um aprendiz mais autônomo e confiante.

Interface com a Escola e Família: Atua como um elo entre a escola e a família, promovendo a troca de informações e a construção de um plano de apoio conjunto.

Prevenção é Fundamental:
Para evitar que a criança precise de intervenção profissional, é crucial que os pais e cuidadores:

Monitorem o Conteúdo: Estejam atentos ao que a criança assiste, pesquisando sobre os desenhos e verificando a classificação indicativa.

Estabeleçam Limites de Tempo de Tela: A Sociedade Brasileira de Pediatria e outras organizações de saúde recomendam limites específicos de tempo de tela por idade.

Assistam Juntos e Conversem: Aproveitem para assistir a alguns desenhos com a criança e conversem sobre o que estão vendo, estimulando o pensamento crítico e a compreensão das mensagens.

Incentivem Outras Atividades: Promovam brincadeiras ao ar livre, leitura de livros, jogos de tabuleiro, interações sociais e outras atividades que contribuam para o desenvolvimento integral da criança.

Sejam o Exemplo: Os pais também devem gerenciar seu próprio tempo de tela e demonstrar hábitos saudáveis de uso de mídias.

Em resumo, a exposição a "desenhos perigosos" pode ter impactos sérios no desenvolvimento cerebral, emocional e comportamental da criança, levando a traumas e dificuldades que podem persistir. 

Nesses casos, a psicoterapia e a psicopedagogia oferecem o suporte necessário para a criança elaborar os traumas, desenvolver habilidades essenciais e superar as dificuldades de aprendizagem, promovendo um desenvolvimento mais saudável e equilibrado.

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