Criança Abrandonada e Sua História Social

Continuando a história
No plano espiritual, a pobreza possuía um valor potencial de todo o sofrimento. Assim, ela recuperar seu lugar nscategorias mentais, diz-no ainda Mollat, e é justificada. Ela pode ser útil tando ao rico, como meio de salvação, quanto ao pobre, como meio de santificação. A pobreza adquire assim uma dimensão social até então reservada aos ricos. Está aí, afirma Mollat, a chave das reflexões e das atitudes do século XII em face da pobreza e dos pobre. Esse fato é fundamental pra se entender as novas atitudes e práticas de assistência à infância abandonada que começavam a surgir.
Os séculos XI e XII foram uma época de intensa atividade legistlativa e organizacional da Igrea. Houve então uma nítida ruptura com a situação anterior em relação às práticas assistenciais a criança abandonada.
A Igreja sofreu uma grande transformação em sua estrutura e em sua organziação: centralizou-se; assumir a forma de uma monarquia fortemente hierárquica, uniformizou suas normas.
O catolicismo europeu regulamentou, minuciosamente , cada aspecto da moralidade familiar e da sexualidade. Foram sancionados nos graus de relacionamento permitidos aos que iam casar-se e as circunstâncias sobr as quais as crianças podem receer obatismo. de resto, houve um obsessivo cuidado com o sacramento do batismo, e esse passou a ser a precondição única de salvação a alma e a chave de entrada no Paraíso. o infanticídio foi sistemática e rigorosamente proibido, assim como o aborto.
O rápido aumento da população provocou não só o aumento da pobreza, mas trouxe também problemas para a família. Para a época, crescia assustadoramente o número de crianças ilegítimas e também de abandonadas. Sendo a mortalidade geral, e particularmente a infantil, muito elefada, havia o risco de as crianças - sobretudo a nascidas dos concubinatos - morrerem sem o batism.
Novas questões foram propostas ao legislador canônico, como a seguinte:
crianças ilegítimas, escravas ou abandonadas poderiam receger o sacramento do batismo? Se, de um lado, o sacramento do matrimônio foi definido como o único meio canônico de reprodução da espécie, por outro, como a Igreja deveria comportar-se em face do batismo dos filhos do pecado (os filhos oude prostitutas, os filhos adulterinos, etc.), nascidos, portanto, fora do casamento sacramental?
Os concílios normatizaram esta questão: o inocente não deveria pagar pelos pecados dos pais. Toda criança teria o direito à salvação e, portanto, ao batismo.
Uma outra questão não menos grave era: boa parte das crianças - particularmente as abandonadas à beira de caminhos nas portas de casas ou igrejs, expostas ao rio, à neve, à chuva, ao claor intenso, à sanha de animais - morria antes de receber o batismo. Se o batismo era a única via de salvação, para onde iriam essas crianças - que mal haviam entrado no mundo - depois de mrrer? Nesse caso, só havia duas opções: o céu ou o inferno. É verdade que, no sécuolo XII , a Igreja havia criado uma terceira opção, para aqueles cujos pecados não eram tão graves: o purgatório, um lugar intermediário, de refrigerium. O locus purgatorius torna-se o lugar destinado à purgação necessária para ganhar o prêmio posterior: o paraíso.
O purgatório, entretanto, não resolvia a questão do inocente que morria sem batismo, mas sem ter ainda pecado. Novo espaço foi criado, entrão , para tias situaçoes, o limbo. Meio nebuloso - nem céu nem infero apenas povoado por incoentes e pagãos sem batismo -, lá havia tudo, menos a visão beatifíca de Deus e e seu séquito de anjos e de santos.
Curiosa definição do limbo é dada pelo padre jesuíta João Filippe Betendorf, em seu Compêndio da Doutrina Cristã, de 1681:
"Que é o Limbo dos meninos? R. - É uma caverna obscura por cima do purgatório e que estão os meninos que faleceram sem batismo".
A idéia hierárquica do local está presente: fica acima do purgatório e abaixo do paraíso.
Esses meninos sem culpa alguma estavam assim condenados a viver eternamente em uma caverna escrua, pelo simples fato de não lhe terem ministrado o batismo antes de sua morte.
Daí a importância que o batismo acabou tendo no imaginário e também na prática do povo.
"Que coisa é o batismo", perguntava ainda o padre Betendorf.
E ele mesmo respondia: " o sacramento pelo qual de escravos do diabo somos feitos filhos de Deus, e herdeiros do Céu, e que destrói o pecado original com todos os mais que temos cometidos antes do batismo".

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